O Telefone Preto 2 chega com uma missão quase impossível: justificar a continuação de um filme que parecia completo. Mas o diretor Scott Derrickson e o roteirista C. Robert Cargill conseguem fazer exatamente isso, e ainda entregam um terror que mistura nostalgia dos anos 1980, pesadelos à la Freddy Krueger e uma surpreendente dose de emoção.
A trama se passa alguns anos após os eventos do original. Finney (Mason Thames), o único sobrevivente do assassino conhecido apenas como Sequestrador (Ethan Hawke), tenta superar o trauma enquanto lida com visões e chamadas misteriosas vindas do além. Sua irmã, Gwen (Madeleine McGraw), assume o protagonismo e passa a ter sonhos perturbadores com crianças presas sob o gelo, sonhos que a levam até um acampamento cristão isolado, onde o mal volta a se manifestar.

Derrickson transforma o vilão em algo novo: um espírito vingativo que persegue suas vítimas no mundo dos sonhos, evocando diretamente o legado de A Hora do Pesadelo. A referência é clara, mas o diretor evita a simples cópia. Ele cria uma atmosfera hipnótica, nevada e claustrofóbica, onde cada ruído e sombra escondem algo mais sinistro. A fotografia e o uso de granulação reforçam o tom de pesadelo gravado em fita antiga quando Gwen sonha, uma referência inteligente ao cinema de terror dos anos 1980.
O filme não tem medo de ser bizarro, brutal e emocional ao mesmo tempo. Há cenas que beiram o surreal — como uma sequência em uma cabine telefônica coberta de neve que se transforma em um palco de almas perdidas — e momentos que exploram de forma sincera o luto, a culpa e a fé. O terror visual é potente, mas o que realmente assusta é o que os personagens carregam por dentro.
Nem tudo, porém, funciona perfeitamente. O roteiro às vezes se perde em explicações longas e desnecessárias, quebrando o ritmo. Há longos trechos dedicados a revelar origens e regras do “mundo dos mortos” que soam mais burocráticos do que assustadores.

O terror, que deveria ser puro instinto e mistério, às vezes se dilui em diálogos excessivamente expositivos. Ainda assim, o filme se recupera ao focar no elo emocional entre Gwen e Finney, um vínculo de culpa, fé e amor fraternal que dá ao terror um peso emocional raro no gênero.
Ethan Hawke volta em uma atuação discreta, porém eficaz: mesmo com o rosto quase sempre coberto pela icônica máscara, ele impõe uma presença sinistra, sustentada por gestos e voz. Demian Bichir também se destaca como o supervisor religioso do acampamento, acrescentando à trama uma camada de teologia e conflito moral, como a luta entre bem e mal, pecado e redenção.
Com atuações intensas, cenários deslumbrantes e um vilão redesenhado para os pesadelos modernos, O Telefone Preto 2 é o raro caso de uma sequência que honra o original enquanto expande seu universo. É um pesadelo estilizado sobre trauma, fé e segundas chances. Transforma o terror psicológico em espetáculo sobrenatural, sangrento, melancólico e estranho do jeito certo.
